Quando fixei base em Florença, em março de 2017, por cinco dias, a minha intenção era fazer três passeios bate e volta, pois já conhecia a cidade e dois dias seriam suficientes para ver o que faltou e nos outros iria conhecer Pisa, Bolonha e Siena.
Embora seja muito disciplinada em viagens e procure seguir o roteiro planejado, me permito fazer alterações por algum motivo que claro, só surge lá.
Pode ser o clima, o cansaço, o mau humor (sim, às vezes ele aparece mesmo em viagem de férias) ou um lugar muito bom que quero ficar mais tempo, dá para fazer uns ajustes aqui e ali para adaptar a viagem a realidade que os muitos estudos não preveem.
Conheci então Pisa e Bolonha. Só que em Florença estava tão bom, dias tão lindos, tinha tanta coisa para ver e fazer que resolvi tirar Siena, justamente a cidade que eu mais queria conhecer, porque refleti e achei que era uma cidade que merecia mais que um bate e volta e fica melhor ainda se juntar com San Giminiano e Lucca. Um dia ainda irei!
Vamos a Pisa. Claro que o motivo para conhecer a cidade é a sua icônica Torre inclinada que por mais batida que seja, acho o esforço para mantê-la em pé fascinante. Mas Pisa não é só isso e já aviso que os passeios bate e volta que os grupos costumam fazer em uma manhã ou em uma tarde acho difícil para conhecer, tem que correr.

Fomos sozinhos, eu e o marido de trem. E a “aventura” já começou aqui. Comprei o bilhete com duração da viagem em 1h, direto, pelo Regionale Veloce. Chegamos cedo na estação e o trem já estava parado para embarque, estranhei, nunca tinha acontecido, sempre é rápido o tempo de embarque. Ali me dei conta de que não tinha lugar marcado e podia sentar em qualquer banco. E foi entrando gente, entrando gente, não parava de entrar gente, cada figura, uns com malas enormes que não tinha onde colocar, ficavam no colo mesmo, atrapalhando o passageiro do lado, ninguém reclamava, me sentia em um filme de comédia.
Não tinha mais lugar para sentar e continuou entrando gente. Agora ficavam em pé, sentados no chão, pendurados no corrimão, não acreditava no que estava vendo. Jovens, velhos, crianças, até um cego levaram para “ver” Pisa, adorei! Eu e o marido ríamos tanto que uma senhora italiana olhava para a gente e ria também, sem saber do que era (óbvio), porque o riso realmente contagia.
Bom, o trem finalmente partiu e de “veloce” não tinha nada! Muito menos “direto”. É considerado direto o trajeto (linha) que não tem necessidade de trocar de trem para alcançar o seu destino final, ou seja, sem baldeação, mas não significa que ele não para. E esse parou, meu Deus, o desgraçado não andava, só parava, foram 7 estações!
Enfim chegamos, estava exausta hehehe!
E o primeiro lugar que eu estava ansiosa para conhecer era? Quem disse a torre errou! Queria muito conhecer a Igreja de Santa Chiara. Por que? Porque aqui está guardado um dos espinhos da Coroa de Cristo! O marido não acredita, eu sim e uma vez ouvi a seguinte frase, mas desconheço o seu autor “Tão tolo quanto aquele que acredita em tudo é aquele que não acredita em nada”.
Essa igreja foi edificada em 1277, fica em rua lateral (Via Roma, 67) que termina na praça onde está a Torre Inclinada, o Duomo e o Batistério. Só que tem uma construção tão simples, sem nenhuma indicação, que passei por ela algumas vezes e não vi, já estava desesperada quando resolvi perguntar no restaurante em frente e me indicaram a porta. Pertence ao Complexo do Ospedale de Santa Chiara ( porta ao lado).

Ficando de frente para o altar, o espinho está em uma vitrine do lado esquerdo, com uma grossa grade de ferro.

Depois seguimos pela Via Roma, viramos a esquerda e fomos conhecer o Museu delle Sinopie, na Piazza Duomo, achei interessante, mas não é imperdível, então se você tiver pouco tempo, não se preocupe, pode tirar do roteiro. Embora seja um museu pequeno que não demora para ser visitado.
Sinópia é o pigmento vermelho misturado com água e aplicado por escova para fazer os desenhos em papel ou pergaminho, traçados na primeira camada de gesso, preparatórios para o afresco. Seria o esboço do afresco e são raros.
E chegamos: a famosa Torre Inclinada ou a Torre de Pisa. São Pedro não me ajudou e o céu estava carregado de nuvens o que tira muito da beleza da foto, sem o contraste do azul. De todo modo, achei linda, foi restaurada há pouco tempo, está sem andaimes e o seu mármore bem branquinho que dá para ver toda a riqueza de detalhes.
Não tive interesse em subir, vi que a fila de espera era imensa, mas não foi por isso, podia ter comprado o ingresso antecipado, não quis mesmo, bastava apreciar por fora.
A Torre Inclinada fica na Piazza dei Miracoli ou Piazza Duomo e foi construída entre os anos de 1173 a 1350. É o campanário do Duomo, ou seja, a torre que abriga os sinos da igreja. São 7 sinos. Tem 58,36 metros de altura, 15 metros de diâmetro e possui uma inclinação de 5,5°. Para subir são 273 degraus distribuídos em 8 andares. A visita tem duração de 30 minutos, pois tem um número limite de visitantes por vez.
Os experimentos de Galileu Galilei (1564 – 1642) aconteceram aqui, pois nasceu e viveu em Pisa.
Agora, eu fiz questão de ter a manjada foto “segurando” a Torre para ela não cair. Acontece que os “dotes” de fotógrafo do marido não permitiram a execução do plano com perfeição (que foi treinado em casa) e ficou assim:

Paciência, vamos para a próxima atração, que eu amei: o Campo Santo, o cemitério de Pisa, também na Piazza dei Miracoli. Eu sou apaixonada por cemitério. Acho lindo e os meus preferidos são o Père Lachaise em Paris e o Monumentale de Milão. No Brasil o da Consolação em São Paulo é imperdível (vou fazer um post sobre SP que inclui a visita guiada que fiz lá).
O cemitério da Piazza dei Miracoli é diferente dos “tradicionais”. Foi construído em 1277 e possui poucos túmulos. A maioria está em placas no chão, como as pessoas que são enterradas em igrejas. Tem sarcófagos romanos e terra trazida do Monte Calvário pelas Cruzadas. O seu acervo de relíquias religiosas é riquíssimo com pedaços da Santa Cruz e restos mortais dos Apóstolos. Foi o primeiro museu de Pisa.
Os túmulos são de personalidades, pessoas que fazem parte da história da cidade, como os da família Médici e do matemático Fibonacci.


Os afrescos são incríveis! O cemitério foi seriamente atingido na 2ª Guerra Mundial e muitos sarcófagos e afrescos totalmente destruídos. Há um intenso trabalho de restauração para recuperar o que sobrou.
O chão é coberto de placas mortuárias, algumas bem interessantes.
A próxima atração é o Batistério, na Piazza dei Miracoli. Do ano de 1152, em estilo romântico/gótico fica em frente ao Duomo (a Catedral de Pisa). Todo mundo sabe, mas não custa registrar, que os batistérios eram construídos do lado de fora porque não era permitido que pagãos (não batizados) entrassem nas igrejas.
O seu púlpito hexagonal em mármore data de 1260. Galileu Galilei foi batizado aqui.
Em frente ao Batistério, na mesma Piazza dei Miracoli, está o Duomo de Pisa, cidade difícil de visitar, não?
Dedicada a Santa Maria Assunta, a Catedral de Pisa, construída de 1064 a 1118, tem a fachada em mármore, no estilo arquitetônico romântico. Possui 3 pares de portas de bronze do século XVI colocadas para substituir as originais de madeira que foram destruídas no incêndio de 1596.
A porta central retrata a história da Imaculada Conceição e o nascimento de Cristo. A porta da direita o Calvário e a Crucificação e a porta da esquerda o Ministério de Cristo.
O seu interior é impressionante.
O teto de madeira decorado com ouro 24 K é herança dos Médici e o seu púlpito octogonal do artista Giovanni Pisano,de 1301, espetacular.
Então, todas essas atrações estão concentradas na Piazza dei Miracoli, também conhecida como Piazza Duomo a poucos metros uma da outra.
Passando novamente pela Torre de Pisa aproveitei para me despedir com uma selfie (porque o marido ficou mau humorado das 3.548.973 fotos que teve que fazer) e seguimos em frente.
As ruas de Pisa são bem agradáveis para passear, como muitas cidades italianas e européias, tem muitos restaurantes e lojas, várias praças entre elas.
Fazendo o trajeto em direção à estação de trem Pisa Centrale chegamos na Piazza dei Cavalieri onde tem o Palazzo dell’ Orologio, de 1357, com visita guiada sob reserva.
Na construção do Palazzo foram incorporados os restos da Torre Medieval conhecida como Torre da Muda ou da Fome. Da Muda porque as águias da Comuna de Pisa ficavam aqui na época da muda das penas.
Torre da Fome por causa de um caso terrível que ficou famoso na cidade, quando em 1289 o Conde Ugolino Gherardesca foi preso por suspeita de traição juntamente com seus filhos e netos e a chave jogada fora no rio Arno. Toda a família morreu de fome. A história é contada por Dante Alighieri no livro A Divina Comedia (Inferno XXXIII).
Na mesma Piazza Cavalieri se encontra a Igreja de Santo Stefano, de 1567
E o Palazzo della Carovana, de 1562, com sua fachada decorada com figuras alegóricas e zodiacais, onde funciona a Escola Normal de Pisa, uma instituição de ensino superior criada por ordem de Napoleão Bonaparte em 1810.

Seguimos por mais algumas ruas, primeiro pela Borgo Streto, Piazza Garibaldi e depois de atravessar o Rio Arno pela Corso Itália.


Gostei de Pisa, o marido achou sem graça, não é uma cidade que eu gostaria de ficar, passar mais tempo, mas em um passeio bate e volta a partir de Florença valeu a pena.
Estou indo pra Pisa amanhã e seu POST foi muito legal pra mim. Apesar de já saber o que quero ver é sempre bom ter dicas!
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Que bom, fico muito feliz! Boa viagem e aproveita muito a maravilhosa Itália que eu amo demais!
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