Capital do antigo reino de Mewar, cidade dos lagos e considerada a mais romântica do país. Foi fundada em 1559 pelo Maharajá Udai Singh II. Possui 550 mil habitantes e se localiza no Estado do Rajastão, que faz fronteira com o Paquistão, no noroeste da Índia, a 650 Km da capital Delhi.
Udaipur é conhecida como a Veneza do Oriente, sendo a cidade mais rica da Índia, embora considere mais apropriado dizer a menos pobre.
Cheguei em Udaipur de avião, a partir de Delhi (voo 1h e 15m). Fiquei hospedada por 2 noites no Hotel Taj Lake Palace, no meio do Lago Pichola. Conhecido como o Palácio do Lago – Jag Niwas – era a residência de verão da família real. Construído pelo Maharana Jagat Singh II em 1746, todo em mármore branco, baseado em um rochedo.
O hotel só é acessível de barco. Possui pier próprio e barquinhos que fazem o trajeto ida e volta a todo momento. É tão lindo, tão romântico, me senti em um filme. Aliás, neste hotel foram gravadas cenas do filme 007 – Octopussy. Já se hospedaram aqui a Rainha Elizabeth II e Jacqueline Kennedy.

O trajeto de barquinho até o hotel foi um sonho!
Pichola, o coração de Udaipur, é um lago artificial de água doce criado no ano de 1362. Possui 6,96 km² de área – 4 km de comprimento por 3 km de largura. Sua maior profundidade é de 8,5 m. A água tem um alto teor de sódio e bicarbonato. Como recebe dejetos de esgoto é muito poluído, embora eu não tenha sentido odor. Tem 17 espécies de peixes, mas, como comentei na introdução que fiz sobre a Índia, que você lê aqui Índia – Impressões gerais não tive coragem de comer peixe e frutos do mar durante a viagem.
E acredite se quiser, mesmo com toda essa quantidade de água, o lago permaneceu seco de 1998 a 2005. O barqueiro me mostrou a foto abaixo no celular dele.
O Palácio Jag Niwas era a residência de verão do Marajá de Udaipur, tem vista para o Palácio da Cidade e as colinas de Aravali. Ainda pertence ao marajá, convertido em hotel administrado pela rede TAJ. Existe mais um palácio no lago, falarei sobre ele depois. O Taj Lake é um daqueles hotéis que você não tem vontade de sair. Infelizmente nos dois dias que fiquei lá não encontrei o “Seu Marajá”.
A chegada no Hotel foi com chuva de pétalas de rosas, música, colar de flores e a marca com pigmento natural na testa: o terceiro olho, para dar prosperidade. Ritual que se repetiu nos três hotéis do Rajastão.
Os ambientes internos: salas, restaurantes, lounges, bares e os externos: pátios, jardins, piscina, terraços são lindos demais!



O quarto era confortável e possuía uma decoração indiana bem típica, achei um charme, tinha uma saleta, mesa e sofá com uma vista linda do lago.

O café da manhã é servido em uma sala linda, toda decorada com pinturas de cenas indianas. O buffet muito completo e variado, mas por medo, só comia pão com manteiga e tomava chá preto. Um dia, por gentileza do garçom, já que o café possui um chef para preparar vários pratos, comi um waffle (única vez que quebrei meu espartano café).
A vista da sala do café da manhã é maravilhosa. Neste espaço também funciona o restaurante Jharokha, de cozinha indiana mais informal
No primeiro dia, depois de fazer 5.872.974 fotos do hotel fomos jantar. O restaurante Neel Kamal é o mais formal do Hotel Taj Lake, de cozinha indiana. Ambiente lindo e um músico tocando cítara.
Não pedi entrada. O “mimo” do Chef foi uma couve frita bem boa. Acompanhamento vegetais crus, não comi, porque é um perigo!
O prato arroz frito com vegetais, só na pimenta, que dá aquela fritada na boca.

No outro dia fomos conhecer a cidade. Primeira parada: City Palace considerado o maior palácio do Rajastão com mais de 2 hectares. Fica a menos de 5 minutos a pé do pier do Hotel Taj Lake.

O Palácio da Cidade é um complexo formado por 4 edifícios e a sua construção começou com o Maharana Udai Singh II em 1559 e durou 400 anos. Hoje no complexo tem dois hotéis (almocei em um deles) e uma ala privada onde se encontra a residência do marajá de Udaipur e sua família. Na entrada a segurança é reforçada e quem está hospedado no Taj Lake recebe um cartão de “passe livre”, pode entrar e sair quando quiser, não precisa comprar o tíquete, porque o hotel também pertence ao marajá. Então fomos hóspedes de sua alteza! 🙂
Marajá é o título dos nobres da antiga civilização indiana. Seu feminino é marani. Deriva do sânscrito Maharaja e Maharani. Eram reis que governavam uma região da Índia, tinham imenso poder e fortuna. Quando os ingleses dominaram a Índia foram gradativamente perdendo o seu status. Hoje, oficialmente, não tem qualquer poder, o título é só honorário, mas culturalmente ainda exercem influência. Em acordo com o governo permaneceram com os seus palácios. Maharana era o “rei dos reis”, um título acima de maharaja que só alguns possuíam, na cidade de Udaipur tinha um deles.
Depois do portão de entrada há um pátio interno muito bonito com fontes e portais. Em um dos corredores do pátio funcionam diversas lojas com produtos do artesanato local.

Na foto acima turistas desavisados: Na Índia não se mostra as pernas. A “cara” do policial ali atrás era de total desaprovação. Não é proibido andar assim, mas acho que os modos e costumes locais devem ser respeitados. A barriga, por exemplo, pode mostrar à vontade, pois não é considerada uma parte “sensual” do corpo feminino.
Continuando nossa visita, a diferença de estilos arquitetônicos e condição (aspecto) das paredes do palácio é em razão da construção ter se estendido por 400 anos, tendo passado por 22 marajás. Feito em granito e mármore na realidade são no total 11 pequenos palácios.
Os detalhes das paredes do Palácio chegam no ápice da sua beleza no Pátio dos Pavões

A história da Índia tem passagens fascinantes, dignas de roteiro de filme, uma delas é de que em vez de cavalos, nas batalhas os inimigos de Udaipur usavam elefantes. Na iminência de um ataque o marajá ordenou que usassem fantasias com trombas nos cavalos para enganar o adversário. Pelo tamanho eles iriam parecer bebês elefantes e os animais adultos não atacam filhotes! Ideia genial, pena que não durou muito, a farsa logo foi descoberta.
Uma outra história incrível desse palácio diz respeito a Galeria de Cristal, hoje em exposição em um dos seus hotéis, o Fateh. O marajá Sajjan Singh em 1877 encomendou de artesãos ingleses vários móveis em cristal. Eram sofá, mesa, cadeira, cama, aparador tudo em cristal! Porém, o marajá faleceu antes da encomenda chegar. Quando chegaram as caixas da Inglaterra ninguém da família sabia do que se tratava e também não tiveram o interesse/curiosidade de ver. Essa caixas ficaram esquecidas por 110 anos! Somente nos anos 1980 que resolveram abrir as caixas e a surpresa foi incrível, pois se tratam de artigos belíssimos que viraram peças de museu.
A Galeria fica no piso superior, uma galeria de arcos e infelizmente não pode fotografar. No térreo um salão para eventos no Hotel Fateh.
Pinturas dos Marajás de Udaipur
Uma amostra da galeria e a cabeceira da cama de cristal


Abaixo a vista da parte superior do Palácio da Cidade
No final da visita saímos por este portal que dá acesso ao centro da cidade, ruas de comércio muito movimentadas, com aquele trânsito louco, um medo enorme de ser atropelada e amando cada minuto.
Muito próximo do palácio se encontra o Templo Jagdish, de 1651. Um templo hindu dedicado ao Senhor Vishnu – o deus da proteção. No interior não pode fotografar. Uma pena, isso se repetiu por toda a viagem, os templos são lindos por dentro.

O exterior do templo é muito interessante, todo em mármore travertino formado por milhares de esculturas.
Para entrar no pátio do templo precisa tirar os sapatos
Depois do templo fomos conhecer o Sahelion – Ki – Bari, o Jardim de Honra das Empregadas de Serviço. Construído no Século XVIII pelo Maharana Sangram Singh para as damas reais.
A rainha possuía 48 criadas pessoais (empregadas de serviço) e o Maharana resolveu criar um jardim para que as damas tivessem um local de descanso e lazer e principalmente se refrescarem no intenso calor do verão indiano.
O Jardim é lindo, possui muitas fontes com esculturas em mármore, além de museu e piscina de flor de lótus.
E aqui, mais uma vez, as fãs não me deram sossego! Saudade das indianas.
Outra atração que visitamos na cidade foi o Pratap Memorial, no topo da colina de Moti Margi (Pearl Hill). Todos os nossos passeios foram feitos sempre com o guia e motorista que nos deixava na porta das atrações ou o mais próximo possível delas. Esta colina fica um pouco mais distante do centro e no topo encontramos uma estátua e uma bela vista. Não considero este local imprescindível, até porque o acesso não é tão fácil.
O memorial se trata de uma estátua de bronze do Maharana Pratap e seu cavalo Chetak, um animal muito fiel e protetor de seu dono que ficou ao seu lado até a sua morte.
Tem uma bela vista para o Lago Fateh Sagar, nome em honra ao guerreiro Rajput.
O Lago Fateh também é artificial, com 4 km² e fica ao norte do lago Pichola. Em 1680 foi inundado e refeito em 1889 com uma barragem para a visita do Duque de Connaught, filho da rainha Vitória.
Para terminar o tour, começamos a perceber uma prática dos guias que não nos agradou, que era levar para uma “exibição do artesanato local”. Aconteceu em Delhi (primeira cidade da viagem, que vou deixar para comentar depois do Rajastão) e agora em Udaipur. O guia nos leva a uma cooperativa de artesãos que demonstram a sua atividade e depois “se você quiser” pode comprar os seus produtos. As explicações são em inglês, demoradas, em um ambiente fechado, quente e em Delhi ainda tinha cheiro de mofo. Te oferecem chá ou suco (não bebi). É extremamente cansativa e desagradável essa prática de empurrar os turistas para compras sendo visível que recebem comissões. Os produtos à venda são bem caros.
Li que é uma prática comum na Índia, inclusive com guias freelancers. Até os motoristas de tuc tuc se você bobear eles não te levam ao destino diretamente, dão um jeito de passar em uma cooperativa ou loja parceira, onde recebem a comissão por levar compradores. Se você insiste dizendo que não quer ir, como no nosso caso, nas outras cidades, os guias “amarram a cara”.
No caso de Udaipur nos levaram em uma cooperativa de pintores, onde depois tinha a loja de artigos de pintura em papel, pergaminho, ou seda.


Compramos duas pinturas em seda muito bonitas, não adiantou pechinchar (como todos indicam) o artista/vendedor não baixou o preço, que era bem salgado.
No final do tour fomos almoçar no restaurante do complexo do Palácio da Cidade. Convidamos o guia para nos acompanhar como sempre fizemos em outras viagens (Turquia e Rússia), mas na Índia, diferente dos outros países, nenhum guia aceitou. Falamos então que não era necessário nos acompanhar, que o tour havia terminado, que a gente iria passear um pouco mais sozinhos e depois voltar para o hotel.
Quem disse que o guia aceitou? Ficou esperando a gente terminar de almoçar para nos acompanhar depois.
Almoçamos no restaurante do Hotel Fateh, com mais uma comida horrível para a conta. Pelo menos a vista era linda.

Depois do almoço insisti com o guia que queria passear sozinha com o meu marido, que o complexo era muito perto do nosso hotel, fácil de voltar e depois de muita conversa ele aceitou e foi embora. Ufa! Outra coisa que me deu agonia na viagem, a gente nunca ficava sozinho. Não tinha oportunidade de ir no comércio local com calma, por nossa conta. Desta vez eu consegui e fomos passear sozinhos pelas ruas loucas de Udaipur.
A única loja que eu tinha anotado nas minhas pesquisas para conhecer era a Gothwall Art, na Rua Gangour Ghatt Marg, número 20. O casal de artistas proprietário é muito gentil e simpático, eles produzem todos os desenhos e também atendem na loja. O trabalho deles é lindo e comprei gravuras pintadas pelos dois. No final, claro, foto desse casal super querido!
Como fiquei sem rúpias precisava trocar euros, então pedi para o proprietário de uma loja de objetos (onde comprei estatuetas de Ganesha, encomenda da minha mãe, sim, eu tenho uma mãe que faz encomendas quando eu viajo) para me informar onde tinha uma casa de câmbio. Ele me informou? Não! Ele me levou lá! Só que estava fechada.
Daí ele disse que conhecia uma pessoa para trocar e nos levou. Era uma loja escondida dentro de um pátio, um ambiente escuro, com cheiro de mofo, nos fechou lá dentro com o proprietário e saiu. O dono depois também saiu para buscar o dinheiro. Ficamos sozinhos uns 15 minutos, morri de medo. Mas, deu tudo certo, trocou o dinheiro, um câmbio bem favorável. Quando saímos o dono da loja de estatuetas ainda estava lá fora nos esperando! Só que desta vez, como eu tinha comprado na loja dele, ele não me pediu gorjeta, disse que queria me levar na casa dele, para me “mostrar” para a família! Eu disse que não dava, estava atrasada e ele insistindo, então saímos correndo o marido e eu. Que gente doida credo!

Ganesha é o deus hindu da fortuna e prosperidade. Tem cabeça de elefante.

Outro detalhe: comprei muito pouco na Índia. Os artigos bons são caros, bem caros mesmo. Os baratos, na sua maioria, tem muita porcaria, mal feitos, roupas com bordados exagerados, nada a ver. Conseguir extrair algum item legal, com preço idem é um verdadeiro exercício de paciência. Os comerciantes são muito insistentes, não deixam a gente ver os produtos com calma (e olha que sou bem ligeira para compras) ficam empurrando tudo que tem na loja, nada tem preço, eles dão o preço que querem, daí tem que ficar negociando, achei uma chatice, um cansaço. Na Turquia já foi assim, mas na Índia é muito pior.
Depois dessa aventura, que foi um Krishna nos acuda, voltamos para o hotel sãos e salvos.
Estava no programa da agência fazer um passeio de barco pelo Lago Pichola, mas como o nosso hotel também faz esse passeio com os hóspedes resolvi agendar com o barquinho do hotel, achei mais charmoso do que o barco maior. Reservei para o final de tarde para ver o Sunset.
O passeio pelo Lago Pichola é lindo, as paisagens são incríveis, a arquitetura dos prédios nas suas margens e outras construções dentro do lago o tornam fascinante, é um passeio imperdível na cidade.
E em uma parte do lago as mulheres estavam lavando roupas e se banhando, mas o barco não passou muito perto, então as fotos não ficaram tão boas.
E chegamos na Ilha Jagmandir onde tem o outro palácio do lago. Aqui o barco faz uma parada e descemos para visitar.
O Palácio Jagmandir foi construído entre 1551 a 1652, iniciado pelo Maharana Amar Singh para ser o resort de verão da família real de Udaipur. A entrada é ladeada por elefantes de pedra. No local hoje funciona um pequeno museu e um hotel com bar e restaurante.
O caminho de volta com o por do sol foi mágico, inesquecível. O sol estava um bola enorme de fogo, lindo demais!
Resolvemos jantar novamente no hotel, no Restaurante Bhairo de cozinha européia, localizado no rooftop.
O restaurante é a céu aberto e foi uma das experiências mais marcantes da viagem. Sua vista é realmente de sonho.


Udaipur foi a cidade mais bonita que eu conheci na Índia. Seus lagos e palácios compõem um cenário fascinante. Andar pelas suas ruas é vivenciar o caos típico das metrópoles indianas com arte, cultura, história, arquitetura e fé que fazem da Índia um destino realmente singular.
Lindas imagens. Descrição perfeita. Parabens!
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Obrigada amigo! Sempre muito bom ver você por aqui, beijos!
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