Viagem é realmente algo muito pessoal. As impressões e gostos de um nem sempre servem para o outro. E exatamente isso aconteceu em Jodhpur. No planejamento informei a agência que o objetivo da viagem era comemorar o meu aniversário, então, o contato da Pioneer Journeys no Brasil, a querida Cíntia me aconselhou passar a data em Udaipur ou em Jaipur, mais bonitas e interessantes, porque Jodhpur era a mais sem graça das três cidades do Rajastão.

Só que fui para Índia a partir de Roma e a companhia Alitália não tem vôos diários para Delhi. Soma-se a isso eu não poder chegar em Delhi em uma segunda-feira porque está tudo fechado e nem estar em Agra em uma sexta-feira porque o Taj Mahal não abre. Quer dizer, tive que fazer um malabarismo danado e a data do meu aniversário, 03 de novembro, caiu na cidade de Jodhpur. Paciência pensei, o importante é que estarei na Índia.
Em um ponto concordo com a agência, Udaipur é a mais bonita sim, mas Jodhpur está longe de ser sem graça e no meu ponto de vista foi a melhor das três, mais do que Jaipur, a capital do Rajastão. Concluindo, Jodhpur foi a cidade que eu mais gostei de toda a viagem, depois foi Delhi (que a maioria odeia). Foi maravilhoso, um sonho poder passar o meu aniversário nesse lugar.

Jodhpur é segunda maior cidade do Estado do Rajastão, possui 1 milhão de habitantes, tem 78 Km², foi fundada em 1.459 e se situa junto ao deserto de Thar a noroeste da Índia.
Fiquei hospedada no Hotel Umaid Bhawan Palace, administrado pela rede TAJ. Foi o hotel mais incrível da viagem. O hotel mais lindo que já fiquei na vida!
O Palácio Umaid foi construído entre 1928 e 1943 em arenito amarelo e está localizado na colina Chittar o ponto mais alto de Jodhpur. Trabalharam na construção 5.000 homens durante 15 anos. O prédio não possui argamassa ou cimento, as pedras foram esculpidas e unidas por entalhe, intercalando peças positivas e negativas. Possui 347 cômodos sendo a principal residência do marajá de Jodhpur, sua alteza Gaj Singh. O nome do palácio, Umaid, é em honra ao avô do atual marajá.
A chegada no Hotel Umaid é um acontecimento. Fomos recebidos com banda de música, pétalas de rosas, colares de flores e a marca de pigmento na testa para prosperidade.
O lobby é composto de vários ambientes um mais lindo do que outro e a cúpula do palácio possui 32 metros de diâmetro e 195 metros de altura em estilo renascentista. Foram utilizados no seu interior 1 milhão de metros quadrados de mármore. Seu jardim tem 100.000 m². O prédio foi dividido em três partes: hotel, residência do marajá e museu (aberto ao público).
Todos os hotéis que ficamos na Índia tinham um forte esquema de segurança, mas no Umaid, por ser em parte residência do marajá, a vistoria era ainda mais rigorosa. Antes de entrar no hotel, o motorista tinha que abrir o capô e o porta malas do carro. Um segurança passava um aparelho detector de bomba embaixo do carro e as malas passavam no aparelho de Raio X.
Também neste hotel, infelizmente, não encontrei o Seu Marajá para cumprimentar, dar um oi, enfim, agradecer a hospitalidade 😉
A reserva foi feita pra um quarto standard, só que no check in recebi um upgrade para a suíte histórica, um quarto muito confortável, com sala, closet e varanda.
O café da manhã é servido no restaurante Pillars, onde jantamos no meu aniversário. Um espaço no terraço com vista para uma enorme área verde e que tinha sempre músicos ou eventos artísticos acontecendo.
E sempre um amigo para fazer companhia no café
De todos os hotéis o Umaid foi o que tinha o staff mais gentil, parecia uma grande família, todos muito simpáticos, bem falantes, sorridentes, a gente se sentia muito bem, recebidos com muito carinho e atenção. O pessoal do café, restaurantes, spa, recepção, porteiros, amei cada um por tanto afeto.

No final de tarde, por volta das 18h, sempre tem um evento cultural no Hotel Umaid. No primeiro dia assistimos uma apresentação de dança folclórica. A dançarina vai encaixando os potes um a um em cima da cabeça até ficar em uma altura incrível.
E depois ela convidou as mulheres da plateia para dançarem. Só eu e mais uma moça (indiana) aceitaram o convite. Que gente desanimada credo!
A parte de gastronomia do Hotel Umaid é composta por dois restaurantes e um bar. Na primeira noite jantamos no restaurante Risala. Ambiente mais formal. Cozinha indiana e continental. Gostamos (conseguimos comer uma massa com molho de tomate) e no outro dia almoçamos aqui também.



O hotel tem muitos quadros dos Marajás de Jodhpur

No outro dia, foi meu aniversário, no final do post conto tudo desse dia tão especial. Agora vamos conhecer Jodhpur?
Primeira parada o Forte Mehrangarh do ano de 1.460, fica em uma colina 125 metros acima da cidade. Fica a 15 minutos de carro do centro. Trata-se de uma fortaleza que abriga vários palácios.
As muralhas tem 35 metros de altura e 21 metros de largura, para acessar o interior do forte passa por 7 portões.
A charmosa aqui foi de rasteirinha, mas o ideal é visitar o forte e a cidade toda de tênis porque tem muita areia, pedra e sujeira. Já no interior do forte, para chegar no terraço que dá acesso aos palácios, na parte superior, pegamos o elevador, como chegamos cedo (abre às 9h) não tinha fila. Dá pra ir a pé também, mas fica muito cansativo e demorado. Dica: Para quem vai sozinho o ideal é contratar um tuc tuc até o 5° Portão onde está o elevador.
Na entrada do forte tem algumas lojas, vendedores chatos e câmbio, então resolvi trocar euros e aqui também aconteceu um fato que se repetiu por toda a viagem. Quando entrei na casa de câmbio uma família de indianos entrou comigo e ficou olhando eu trocar o dinheiro, contar, só faltaram colocar a cabeça dentro da minha bolsa! Não eram pessoas pobres, não estavam ali para pedir ou trocar dinheiro, era só por curiosidade mesmo! E eles não fazem cerimônia, grudam para observar o que você vai fazer, em várias lojas foi assim, e, como sempre, no início eu achava interessante e até engraçado, depois cansa.

Lá em cima, pouca gente, um milagre na Índia. A época que viajei estava acontecendo o Diwalli, o festival das luzes, um feriado e festa tão importante para os hindus quanto o Natal é para os cristãos. As cidades estavam lotadas e o Rajastão é o estado mais turístico.
Do terraço dá para ver porque Jodhpur é conhecida como a Cidade Azul. As casas são quase todas pintadas desta cor e existe duas explicações: uma porque o azul é uma cor mais refrescante, melhor para aguentar o quente e úmido verão indiano e outra porque os mosquitos não “gostam” da cor azul, então serve para espantá-los.
Pelas fotos dá para perceber o quanto subimos
A arquitetura da fortaleza é impressionante e suas paredes externas são em tons avermelhados. Na área dos palácios tem um mix de tons terracota e ocre
Abaixo trono e fotos da coroação do atual Marajá Gaj Singh II com 3 anos de idade.

O Forte Mehrangarh é um dos maiores da Índia, a família real morou aqui até se mudar para o Palácio Umaid (meu hotel). Hoje funciona como museu, no seu acervo tem antiguidades, obras de arte, armas, roupas, instrumentos musicais e mobiliário.


Phool Mahal – Hall de Audiências privadas construída pelo Marajá Abhaya Singh no século XVIII em ouro e espelhos
O que mais me deixou extasiada nos palácios indianos foi a riqueza de detalhes nas suas paredes. Pinturas, espelhos, pedras semi ou preciosas, prata, ouro, madeira, mármore, tudo era usado para compor esse efeito fantástico.


E a louca das portas, não posso ver que já quero fotografar, imaginando a moldura

Próxima parada: Jaswanthada o Cenotáfio Real. Um local destinado a homenagear a memória dos que já faleceram (não se encontram aqui os restos mortais).
Na Índia as pessoas não são enterradas e sim cremadas. O Marajá Sardar Singh construiu em 1899 este local que serve como crematório da família real e memorial, em homenagem ao seu pai Marajá Jaswant Singh II, por isso o nome Jaswanthada,

Fazia parte do roteiro também conhecer o Bazar de Sardar, o mercado de Jodhpur. São inúmeras barracas com roupas, sapatos, bijuterias, tecidos, comida e apesar de ter muita sujeira, muito lixo, amei! Gostei muito na viagem de todas as vezes que fiquei na rua andando a pé no meio daquela loucura de carros, motos, buzinas, observando as pessoas, seus costumes. Queria ter uma cadeirinha para ficar sentada só olhando o vai e vem, achava tão incrível, me sentia sempre como em um filme.


No centro do mercado se encontra a Torre do Relógio (Ghanta Ghar), construída pelo Marajá Sardar Singh entre 1880 a 1911. É possível subir na torre, mas não fui.
O Sardar Market e a sua Clock Tower é um lugar imperdível em Jodhpur, achei muito interessante e não vi turistas estrangeiros aqui.

Voltando para o hotel, cena comum nas ruas indianas, família inteira na motocicleta, só o homem de capacete, cheguei a ver com 5 pessoas.
No Hotel Umaid Bhawan Palace uma parte funciona como museu com pinturas, retratos e objetos da família real de Jodhpur. Como era hóspede do hotel um funcionário me acompanhou no tour. E aí se os indianos já me olhavam como uma ET, calculem com o segurança do museu mostrando o acervo e me fotografando, já que fui sem o marido. Nem nessa hora eu consegui ficar realmente sozinha, eles não deixam.



Final do dia, como era meu aniversário eu posso tudo, então primeiro marquei uma massagem no JIVA SPA do hotel, que fica junto a piscina interna que se chama Zodiac, já que no chão tem mosaicos com os signos. Fiz uma massagem relaxante com óleos aromáticos. Deixei o celular no armário porque essa vida de blogueira registrando tudo também cansa. Reservei esse momento para desligar.
A boa fama das massagens indianas é merecida. Que massagem! Primeiro o ambiente: escuro com uma música suave, um perfume delicioso no ar. Começou com uma imersão dos pés em uma bacia de água, flores e óleo aromático quente e uma massagem vigorosa (nada dolorida) para relaxar os pés, meus pobres pés cansados de andar de rasteirinha o dia inteiro agradeceram. Depois uma hora e meia de massagem no corpo todo com óleo e por fim no rosto e cabeça. O óleo não era grudento, passei a toalha e pronto. Saí de lá flutuando!
Depois marquei uma tatuagem de henna. O hotel agenda o horário da sua preferência, tem parceria com artistas que vão no hotel atender.
E o resultado: achei que ficou lindo demais! Depois de 1 hora pode lavar. Bem difícil de sair. No primeiro dia fica um laranja bem clarinho, achei que não tinha dado certo! Depois com o passar dos dias vai escurecendo cada vez mais. Durou quase 10 dias. E eu passava álcool gel nas mãos 200 vezes por dia.
Final de tarde mais um evento no hotel, desta vez na área externa, um grupo de músicos e duas dançarinas em uma apresentação incrível, amei!
O dia do meu aniversário, jamais vou esquecer, desde a hora que acordei até a hora de dormir, todos os funcionários que passavam por mim me davam os parabéns, me desejavam coisas boas, até o segurança “sério” da portaria externa colocou a cabeça para dentro do carro e perguntou se eu estava de aniversário para me cumprimentar.
Foram tantos os gestos e palavras carinhosas, tantas felicitações, que percebi que o dia do aniversário na Índia é realmente uma data muito especial. Eles entendem que é um novo ciclo que se inicia, um livro novo que você tem a chance de escrever a vida da sua maneira. Achei tão lindo, fiquei muito emocionada.
Quando voltei para o hotel do tour tinham feito Happy Birthday com flores no chão, a equipe de arrumadeiras me deu um tag de mala, ganhei cesta com flores, vinho, porta retrato com a nossa foto da chegada. Prepararam uma festa surpresa para mim no quarto, com bolo, espumante, os funcionários cantaram parabéns, mais um buquê de flores, recebi um lenço de marani e o marido um turbante de marajá, foi muito legal!
Queria registrar aqui também a parceria do meu marido RB que topou na hora quando eu disse que queria passar o meu aniversário na Índia. Quem nos conhece sabe que o destino não tem nada a ver com o nosso perfil. Quando eu contava que ia para a Índia ficavam todos muito admirados, horrorizados na verdade! E durante toda a viagem ele resistiu heroicamente, participou de tudo com muita boa vontade, inclusive as 50 milhões de fotos que eu pedi, não reclamou de nada (um pouco da comida com toda a razão) e no final da viagem disse para mim que odiou, hahahaha! Parceiro de vida e agora de blog só a agradecer.
Depois da festa no quarto fomos jantar no Restaurante Pillars um terraço com vista para os jardins.

E como terminamos esse dia incrível? Primeiro jogando pingue pongue.
Depois essa surpresa na banheira do quarto nos esperando! Será que eles acharam que ia ter lua de mel? Nessa altura do campeonato!!!
Quando escolhi passar o meu aniversário na Índia sabia que seria especial, só que com todo o seu encanto se tornou realmente memorável, inesquecível. Foi o aniversário mais incrível da minha vida. Namastê!